Entender o ciclo de vida da planta de cannabis é essencial para obter uma colheita de qualidade. Diferentes fatores como temperatura, luz e nutrientes desempenham papéis importantes em cada uma das fases de crescimento da planta, influenciando o seu desenvolvimento e a produção final de canabinoides. Este artigo oferece uma visão científica e detalhada sobre o ciclo de vida da cannabis, abordando as fases, além de orientações práticas para cada etapa.
O ciclo da cannabis pode ser dividido em quatro fases principais: germinação, plântula, fase vegetativa e fase de floração (Green, 2019). Compreender essas fases permite ao cultivador adaptar as condições de cultivo para maximizar a saúde e o rendimento da planta.
- Fase de Germinação
A fase de germinação é o ponto de partida do ciclo de vida da planta de cannabis. Nesse estágio, as sementes são ativadas com a presença de umidade e calor, quebrando a casca e liberando a radícula (raiz embrionária).
Para uma germinação bem-sucedida, as sementes devem ser mantidas em ambiente úmido e escuro, com temperatura média entre 20 a 25°C. Em geral, o processo de germinação dura de 1 a 7 dias (Clarke & Merlin, 2013).
Cuidados na Germinação:
- Umidade: As sementes necessitam de uma umidade constante para ativar o embrião interno.
- Temperatura: Manter uma temperatura estável é crucial para evitar o estresse inicial da planta.
- Fase de Plântula
Após a germinação, a planta entra na fase de plântula. Essa etapa é caracterizada pela formação das primeiras folhas verdadeiras, que são pequenas e possuem bordas serrilhadas. A plântula é frágil e requer atenção especial em relação à quantidade de luz e umidade (Potter, 2009).
Duração: A fase de plântula geralmente dura de 1 a 3 semanas, dependendo da genética e das condições ambientais. É nesse estágio que a planta começa a desenvolver o sistema radicular, sendo essencial evitar o excesso de rega para não prejudicar o crescimento das raízes.
Cuidados na Fase de Plântula:
- Luz: As plântulas precisam de 18 a 24 horas de luz diária, preferencialmente de intensidade média.
- Umidade: Um ambiente úmido entre 60-70% é ideal para evitar que a planta desidrate.
- Ventilação: A circulação de ar ajuda a fortalecer o caule da plântula, preparando-a para o próximo estágio.
3. Fase Vegetativa
A fase vegetativa é o período de crescimento acelerado da planta, caracterizado pelo desenvolvimento das folhas, caule e raízes. Durante essa fase, a cannabis requer maior quantidade de nitrogênio e luz intensa para maximizar o crescimento foliar (McPartland et al., 2001).
Duração: Essa fase pode durar de 4 a 16 semanas, dependendo da genética e do método de cultivo (indoor ou outdoor). Plantas de Sativa tendem a permanecer em fase vegetativa por mais tempo em comparação às Indicas, pois crescem em altura de forma mais acentuada (Clarke & Merlin, 2013).
Cuidados na Fase Vegetativa:
- Luz: Recomenda-se 18 horas de luz e 6 horas de escuridão para manter a planta em crescimento vegetativo. A luz deve ser intensa, com espectro azul para estimular o crescimento foliar.
- Nutrientes: Nesse estágio, a planta necessita de um fertilizante rico em nitrogênio, fósforo e potássio (N-P-K).
- Umidade e Temperatura: A umidade ideal é de 40 a 70%, e a temperatura deve ser mantida entre 20-30°C.
- Fase de Floração
A fase de floração é o estágio final do ciclo de vida da cannabis, em que a planta desenvolve flores e concentra a produção de canabinoides como o THC e o CBD. Esse estágio é induzido quando a planta recebe menos de 12 horas de luz por dia (Green, 2019).
Duração: A fase de floração varia entre 6 a 12 semanas, dependendo da genética. Indicas tendem a ter um ciclo de floração mais curto que as Sativas.
Durante a floração, a planta precisa de mais fósforo e potássio, e menos nitrogênio, para maximizar a produção de flores (McPartland et al., 2001).
Cuidados na Fase de Floração:
- Luz: A planta requer um ciclo de luz de 12 horas de luz e 12 horas de escuridão para iniciar a floração. A luz deve ser de espectro vermelho para favorecer o desenvolvimento das flores.
- Temperatura e Umidade: Manter a umidade abaixo de 50% é ideal para evitar o mofo nas flores. A temperatura recomendada é entre 18-26°C.
- Monitoramento: Durante a floração, é importante observar sinais de pragas e fungos, pois a densidade das flores cria um ambiente propício para essas ameaças.
Considerações sobre a Colheita e Secagem
Após o período de floração, a planta está pronta para a colheita. A decisão de colher deve ser baseada na aparência dos tricomas, pequenas glândulas resinosas que produzem os canabinoides. Quando os tricomas passam de uma cor clara para um tom leitoso ou âmbar, é sinal de que a planta está pronta para ser colhida (Russo & Marcu, 2017). Após a colheita, as flores devem ser secas e curadas em ambiente controlado para preservar os compostos terapêuticos e realçar o sabor e o aroma.
Conclusão
O ciclo de vida da planta de cannabis envolve diversas fases, cada uma com suas próprias necessidades de luz, nutrientes e condições ambientais. A compreensão desse ciclo permite que o cultivador otimize o cultivo, adaptando os cuidados em cada fase para maximizar o rendimento e a qualidade da colheita. Ao fornecer à planta as condições adequadas em cada etapa, o cultivador pode alcançar um produto final de alta qualidade, seja para uso medicinal, recreativo ou industrial.
Referências
CLARKE, Robert C.; MERLIN, Mark D. Cannabis: evolution and ethnobotany. Berkeley: University of California Press, 2013. ISBN 978-0520270480.
GREEN, Greg. The Cannabis Grow Bible: The Definitive Guide to Growing Marijuana for Recreational and Medical Use. San Francisco: Green Candy Press, 2019. ISBN 978-1937866367.
McPARTLAND, John M.; GUY, Geoffrey W.; RUSSO, Ethan B. A primer of the endocannabinoid system in central nervous system therapeutics. Current Opinion in Neurology, v. 30, n. 3, p. 217-225, 2017. DOI: 10.1097/WCO.0000000000000445.
POTTER, David J. Cannabis horticulture for recreational and medical users. Handbook of Cannabis, p. 187-199, 2009. DOI: 10.1017/CBO9781139565953.014.
RUSSO, Ethan B.; MARCU, Jahan. Cannabis pharmacology: the usual suspects and a few promising leads. Advances in Pharmacology, v. 80, p. 67-134, 2017. DOI: 10.1016/bs.apha.2017.03.004.